Prefeito de Parauapebas confronta a Vale e denuncia sonegação bilionária durante a COP30

Prefeito Aurélio Goiano denuncia dívida bilionária da Vale S.A. e ganha apoio político com a CPI da Mineração da Câmara de Parauapebas, que apura impactos urbanos e ambientais no município.

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Na fronteira entre o urbano e o mineral, Parauapebas vive uma tensão crescente. A cidade, que nasceu em torno da mineração, agora reage à própria estrutura que a sustenta. O prefeito Aurélio Ramos de Oliveira Neto (Avante-PA), conhecido como Aurélio Goiano, acusou publicamente a mineradora Vale S.A. de dever mais de R$ 10 bilhões ao município e de “visar apenas o lucro, não as pessoas”.
Enquanto o gestor busca visibilidade nacional e internacional — inclusive na COP30 —, o Legislativo municipal instala a CPI da Mineração, revelando que o conflito entre a cidade e a mineradora extrapola a retórica: virou pauta institucional.


Parauapebas, a cidade que sustenta o ferro

Desde a implantação do Projeto Ferro Carajás, Parauapebas foi transformada em um núcleo urbano dependente da mineração. A Vale, uma das maiores exportadoras de minério do planeta, opera na região há quatro décadas.
Os lucros crescem, mas a desigualdade persiste. Apenas 12% do município possui saneamento básico, segundo o prefeito. O contraste entre os bilhões exportados e as condições urbanas precárias virou símbolo de uma economia que concentra riqueza e distribui pouco retorno social.

Estudos acadêmicos sobre urbanização mineradora indicam que a cidade vive uma “dupla periferização”: depende da empresa e, ao mesmo tempo, é excluída de seus benefícios diretos. (Periódicos UFG)


A fala de Aurélio Goiano: o discurso que atravessou fronteiras

Durante evento paralelo à COP30, o prefeito fez declarações contundentes:

“A Vale do Rio Doce só visa o lucro. É a maior sonegadora de impostos do planeta. Eu estou esperando uma conversa com a Vale há nove meses. [...] A Vale deve pro meu município mais de 10 bilhões de reais. Mas aqui pra COP está tudo lindo. Eu não me calarei enquanto a dignidade e o bem-estar do meu povo não tiverem em primeiro lugar.”

O discurso, transmitido em rede nacional e amplamente compartilhado nas redes, revelou um novo estilo de gestão: combativo, direto e voltado para a exposição pública do conflito.
Goiano tem buscado apoio em fóruns nacionais e foi eleito vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para Cidades Mineradoras — um cargo que amplia sua voz na política brasileira.


CPI da Mineração: investigação e pressão institucional

Em maio de 2025, a Câmara Municipal de Parauapebas instaurou a CPI da Mineração, proposta pelo vereador Alex Ohana (PDT) e subscrita por outros parlamentares, para investigar a Vale S.A. e demais empresas do setor sobre repasses da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) e impactos socioambientais.
A comissão ouviu trabalhadores, comunidades afetadas e técnicos, registrando denúncias de rachaduras em casas, falta de água e acidentes causados por ramais ferroviários da mineradora.

Em setembro de 2025, membros da CPI se reuniram com representantes da Vale em Brasília para discutir o processo de pelotização do minério e a arrecadação de tributos, com valores estimados em R$ 2 bilhões.
Em outubro de 2025, o presidente da CPI anunciou que a comissão estima que a empresa deve quase R$ 500 milhões ao município, prorrogando os trabalhos por mais 180 dias. (Câmara Municipal de Parauapebas)

A CPI, além de apurar números, revela o novo papel do Legislativo local como ator político em defesa dos interesses urbanos e fiscais de Parauapebas.


Entre o minério e o povo: o desafio da cidade corporativa

A Vale afirma investir R$ 3,2 bilhões em fornecedores locais e apoiar projetos sociais e ambientais. No entanto, reportagens locais apontam demissões em massa e baixa aplicação direta em infraestrutura urbana.
A economia do município gira em torno da empresa, mas o orçamento público depende de repasses, CFEM e ICMS — elementos frequentemente contestados por subavaliação ou concentração tributária fora da cidade.

Aurélio Goiano, ao expor o conflito, não busca apenas compensações: busca reconstruir o pacto de legitimidade entre poder local e poder corporativo, e recolocar Parauapebas como sujeito político na Amazônia minerada.


O que está em jogo


A crise entre Parauapebas e a Vale não é apenas local: reflete o choque entre dois modelos de poder — o econômico, que extrai e concentra, e o político, que tenta afirmar soberania sobre o território.
A cidade, que nasceu para servir à mineração, agora luta para ser dona de seu próprio destino.
Entre a retórica e a investigação da CPI, surge um novo capítulo da política urbana amazônica — onde o minério não é mais apenas riqueza, mas também símbolo de disputa por dignidade e justiça social.



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🇧🇷 PLUATROX — Música e Política é um segmento jornalístico baseado na Ciência Política, dedicado à divulgação musical, à consultoria política, a temas relacionados à agricultura familiar e à fotografia documental.

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