Parauapebas, 11 de julho de 2025 — Enquanto os refletores iluminam uma festa junina fora de época promovida pela prefeitura, servidores da saúde e moradores enfrentam uma realidade marcada por reivindicações e questionamentos sobre a condução da gestão pública municipal.
A cidade, conhecida nacionalmente pela sua produção mineral e força econômica, vive um momento de avaliação profunda da administração local. Aplicando o conceito da Teoria das Janelas Quebradas, observa-se que pequenos sinais de desordem institucional — como contratos mal explicados ou promessas não cumpridas — podem comprometer a confiança popular e gerar sensação de abandono, tanto na cidade quanto no campo.
Manifestação da saúde acende alerta na população
No dia 10 de julho de 2025, profissionais da saúde de Parauapebas foram às ruas para denunciar atrasos nos pagamentos e más condições de trabalho em diversas unidades de atendimento. Com cartazes e faixas, exigiram respeito da gestão municipal, pedindo providências imediatas.
A manifestação também expôs o cenário enfrentado por pacientes: filas extensas, falta de médicos e infraestrutura precária, especialmente nas áreas periféricas e rurais. Em um município com recursos bilionários oriundos da mineração, o contraste entre o potencial econômico e os serviços básicos é cada vez mais visível.
Contratos públicos levantam questionamentos em 2025
Em maio deste ano, a Prefeitura de Parauapebas firmou contrato emergencial de R$ 34,8 milhões com a empresa Ressol — Resíduos Sólidos Parauapebas SPE Ltda. O que chamou a atenção de setores da sociedade civil foi o fato da empresa ter sido registrada poucos dias antes da assinatura, o que gerou dúvidas sobre a real necessidade e os critérios utilizados na contratação. A situação permanece sob apuração dos órgãos de controle.
Outro episódio foi a rescisão, também em maio, do Contrato nº 20240790 com a empresa SPE Iluminação Parauapebas Ltda., que havia sido contratada para manutenção da iluminação pública. A rescisão ocorreu após apontamentos do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA) por ausência de projeto básico e falhas na pesquisa de preços. A Justiça validou a decisão da prefeitura.
A Câmara Municipal também entrou no debate ao aprovar requerimentos que solicitam informações detalhadas sobre pagamentos milionários a empresas de engenharia, cobrando maior transparência na execução orçamentária.
Em época de campanha eleitoral, promessa de enxugar a máquina pública não se confirma
Durante a campanha que o elegeu, o prefeito Aurélio Goiano afirmou que extinguiria a Secretaria de Governo (SEGOV). Contudo, em vez de ser encerrada, a pasta foi mantida e passou a ser comandada por sua irmã, o que gerou forte repercussão nas redes sociais e entre lideranças políticas locais. O caso levantou discussões sobre coerência administrativa, organização interna e o uso de estruturas públicas no contexto eleitoral.
Embora a nomeação tenha seguido os trâmites legais, o gesto foi interpretado por parte da população como uma contradição política.
Cultura e eventos versus demandas sociais
Enquanto manifestações por saúde e serviços públicos ocorrem nas ruas, a prefeitura tem investido em eventos culturais com estrutura de grande porte, incluindo palco, iluminação e divulgação. Apesar da importância da cultura, moradores questionam o uso de recursos em festas enquanto unidades de saúde enfrentam crises operacionais e a zona rural carece de assistência técnica, estradas em boas condições e transporte escolar regular.
Campo e cidade, um só território de direitos
Produtores da agricultura familiar relatam dificuldades que vão desde a ausência de apoio técnico até o isolamento causado por estradas em más condições. Sem políticas contínuas e eficazes, o setor produtivo rural — essencial para a segurança alimentar do município — segue à margem das decisões políticas prioritárias.
A comunicação rural e urbana torna-se essencial para dar visibilidade a essas vozes e construir pontes entre centro e periferia, entre cidade e campo.
Cuidar das pequenas trincas para evitar rupturas maiores
A aplicação da Teoria das Janelas Quebradas na gestão pública mostra que sinais de descuido, negligência ou incoerência administrativa abrem espaço para a perda de confiança da população. Quando contratos são firmados às pressas, promessas são descumpridas e servidores não são valorizados, o pacto de confiança entre governo e cidadão começa a se trincar — tanto na cidade asfaltada quanto na estrada de chão batido.
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— Publisher: Gilberlan Atrox — jornalista (MTb 2777/PA) e técnico agrícola em agropecuária, da PLUATROX SEGMENTOS — marca segmentada que atua nas áreas de comunicação e informação rural, urbana e divulgação de conteúdos sonoros.
— Reportagem publicada originalmente em www.pluatrox.com