Após 57 anos juntos, Salete morreu 20 minutos depois do marido Velci

Casal de idosos morre com poucos minutos de diferença em Cassilândia (MS). O episódio comove o país e levanta reflexões sobre vínculos afetivos, estresse social e as fragilidades invisíveis da vida moderna.

pluatrox Casal de idosos morre com poucos minutos de diferença em Cassilândia (MS). O episódio comove o país e levanta reflexões sobre vínculos afetivos, estresse social e as fragilidades invisíveis da vida moderna.

Cassilândia, Mato Grosso do Sul — A madrugada de 28 de outubro de 2025 foi marcada por uma cena de dor e espanto. Velci Luiz Santin, de 82 anos, e sua esposa, Salete Terezinha Santin, de 77, pais do vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso, Giovane Santin, morreram com poucos minutos de diferença. Segundo relatos divulgados por familiares, Velci sofreu um infarto em casa. Ao tentar socorrê-lo, Salete passou mal e sofreu um AVC. Em menos de meia hora, o silêncio tomou conta da residência, e a notícia espalhou-se pela cidade como um vento frio, despertando solidariedade e consternação.

A tragédia ultrapassa a dimensão familiar. Ela toca um ponto sensível da vida coletiva: a fragilidade humana diante da sobrecarga emocional e da ausência de amparo nas horas mais críticas. Em tempos em que as instituições públicas e privadas se deparam com crises de empatia, o episódio mostra como o drama humano continua sendo o centro da realidade social. Um casal idoso, unido por uma vida inteira, parte quase ao mesmo tempo, lembrando que o amor e o sofrimento caminham lado a lado em uma sociedade cada vez mais distante da essência humana.

Há, nesse acontecimento, uma simbologia silenciosa. Ele nos obriga a olhar para além da dor individual e enxergar a rede de afeto que sustenta a convivência e o equilíbrio das comunidades. O que se perdeu em Cassilândia não foi apenas um casal querido, mas também a lembrança de que o tecido social se desmancha quando as relações humanas deixam de ser prioridade. A perda súbita dos pais de uma figura pública mostra que ninguém está imune à vulnerabilidade que marca a condição humana.

O poder, o status ou a formação acadêmica não blindam o coração contra o impacto das perdas. O luto não distingue posição, nem reconhece hierarquia. A sociedade brasileira, acostumada a ver a dor transformada em número ou manchete, precisa resgatar a capacidade de sentir, compreender e cuidar. O casal Santin deixa mais que saudade — deixa um alerta. Em um país onde o ritmo acelerado e a competitividade corroem o convívio, a tragédia em Cassilândia é um convite à pausa e à reflexão.

O caso também demonstra como a vida pública e a vida privada se entrelaçam em tempos de exposição constante. A morte de pessoas ligadas a instituições de prestígio desperta uma comoção que vai além do círculo familiar, revelando o quanto a sociedade ainda busca referências humanas em meio ao desencanto coletivo. Em cada nota de pesar publicada, havia não apenas solidariedade, mas o reconhecimento de que o tempo — esse juiz silencioso — nos lembra daquilo que realmente importa.

O episódio de Cassilândia, embora envolto em dor, é também uma lição sobre o limite das estruturas humanas e emocionais. Mostra que o colapso não se dá apenas nas instituições, mas dentro das casas, no coração das pessoas, na ausência de preparo emocional diante das perdas. Em um mundo em que as relações se tornam cada vez mais superficiais, o desfecho de Velci e Salete Santin se transforma em um espelho do que somos: frágeis, sensíveis e interdependentes.

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