Análise da campanha de Aurélio Goiano em Parauapebas destacando suas estratégias de comunicação, discurso e mobilização do eleitorado.
A atuação pública de um político não se esgota nas propostas; ela se constrói na fala, nos apelidos que adota e nas imagens que produz. No caso de Aurélio Goiano, a consistência entre estilo verbal e prática política foi elemento central de sua trajetória. Apelidos que ele mesmo assumiu — como “Canela Seca” e “Boca de Burro” — e declarações contundentes — exemplificadas pela frase “pra me calarem, vão ter que mandar matar” — foram reiteradas em diferentes momentos: na atuação como vereador e reapareceram na campanha eleitoral. Esses recursos discursivos merecem análise por seu efeito simbólico, performativo e mobilizador.
A adoção de apelidos autodepreciativos-transformadores funciona como estratégia de marca pessoal. Ao assumir rótulos populares, o candidato reduz distância simbólica entre si e o eleitor comum: o apelido vira sinal de autenticidade, resistência e identificação com as camadas sociais que rejeitam formalidades. “Canela Seca” e “Boca de Burro”, longe de diminuí-lo, foram apropriados como marcas de coragem e de alguém disposto a enfrentar instituições e interesses consolidados. Essa tática converte autoimagem em capital político, permitindo que humilhação simbólica seja transmutada em reputação de honestidade e “gente como a gente”.
Frases de impacto — no exemplo citado, “pra me calarem, vão ter que mandar matar” — cumprem função dupla. Por um lado, projetam dureza e intransigência: o sujeito posicionado como inabalável frente a pressões. Por outro, criam uma narrativa de vítima ou alvo, que pode gerar empatia e mobilizar solidariedade de apoiadores. Ao mesmo tempo, tal enunciado trabalha a dramatização do conflito político: delimita adversários e estabelece um campo simbólico em que o candidato é tanto combatente quanto possível mártir. Essa construção narrativa estimula militância e fidelidade entre simpatizantes, que passam a enxergar a adesão como gesto de proteção e de pertencimento.
A repetição e a performance corporal acompanham essas palavras. Gestos afirmativos, tom de voz agressivo quando necessário, e a presença em eventos de rua reforçam a coerência entre fala e ação. Em comícios e caminhadas, expressões curtas e contundentes funcionam melhor que discursos longos: prendem a atenção, são memorizáveis e se replicam em mensagens orais e digitais. A estratégia de usar linguagem coloquial e frases-chave facilita a difusão em redes informais — boca a boca, áudios e vídeos — ampliando o alcance da mensagem além dos canais tradicionais.
No entanto, há riscos inerentes a esse modo de comunicação. A escalada retórica pode polarizar e diminuir o espaço para diálogo; frases potencialmente interpretadas como incitação ou apologia da violência abrem margem para controvérsias jurídicas e éticas. Além disso, a performance de “inabalável” pode gerar fricção com setores que esperam prudência institucional, bem como alimentar campanhas adversárias que exploram a mesma fala fora de contexto. Assim, a eficácia simbólica convive com a possibilidade de retrocesso, dependendo do enquadramento midiático e da sensibilidade do público.
“A farra acabou, o canela seca fiscal do povo está de volta”, diz Aurélio Goiano
A style política de Aurélio Goiano — marcada por apelidos assumidos publicamente e por declarações de forte impacto — foi decisiva para a construção de sua imagem eleitoral. Esses elementos discursivos trabalharam simultaneamente autenticidade, coragem e vitimização, produzindo uma narrativa mobilizadora que conectou o candidato a uma base social engajada. Ao mesmo tempo, expuseram-no a riscos de interpretação e contestação, revelando que estratégias de alto impacto exigem coordenação perante a mídia, a Justiça eleitoral e a própria base social. Em suma, o uso de apelidos como “Canela Seca” e “Boca de Burro”, e de falas como “pra me calarem, vão ter que mandar matar”, exemplificam como a performance verbal pode ser arma política poderosa — capaz de consolidar apoio, moldar identidades e, simultaneamente, provocar desdobramentos imprevisíveis.
Nota
O presente estudo apresenta a campanha de Aurélio Goiano à Prefeitura de Parauapebas como um exemplo de estratégia de comunicação e mobilização do eleitorado. A análise concentra-se na forma como o candidato estruturou sua narrativa, utilizou linguagem direta e impactante, e construiu uma identidade própria por meio de apelidos como “Canela Seca” e “Boca de Burro”, bem como declarações marcantes, como “pra me calarem, vão ter que mandar matar”.
Esses elementos, repetidos durante sua atuação como vereador e na campanha eleitoral, demonstram como o posicionamento coerente, a consistência entre discurso e ação, e a capacidade de engajar emocionalmente o público podem contribuir significativamente para o sucesso eleitoral. O estudo evidencia como a adoção de mensagens claras, simbólicas e de fácil memorização fortalece o vínculo com o eleitorado, transforma simpatizantes em aliados ativos e cria uma narrativa de pertencimento coletivo.
Portanto, o caso de Aurélio Goiano serve como referência para candidatos e equipes de campanha, mostrando que uma comunicação estratégica, autêntica e próxima da população pode ser um fator decisivo na construção de apoio político. Este estudo não busca emitir juízo de valor sobre a candidatura, mas sim identificar e sistematizar práticas que contribuíram para sua vitória, podendo inspirar outros atores políticos a refletirem sobre técnicas de mobilização e engajamento eleitoral.