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Imagem: Gilnature / iStock |
A fome continua sendo um dos maiores desafios da humanidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 735 milhões de pessoas no mundo sofrem com a insegurança alimentar. Em meio a essa realidade alarmante, um alimento simples e altamente nutritivo pode ser a chave para combater a fome de forma eficaz e sustentável: a mandioca.
Cultivada há milhares de anos por povos indígenas da América do Sul, essa raiz resistente e versátil se destaca por sua facilidade de plantio, alto valor energético e capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas. A mandioca é um dos alimentos mais consumidos no mundo, especialmente em países da América Latina, África e Ásia. Sua importância na segurança alimentar se deve a diversos fatores. Em boas condições, um hectare de mandioca pode produzir até 20 toneladas de raízes, garantindo alimento para muitas pessoas. A planta se adapta a solos pobres e resiste a longos períodos de seca, sendo ideal para regiões afetadas pelas mudanças climáticas. Rica em carboidratos, a mandioca é uma excelente fonte de energia. Seus derivados, como farinha e tapioca, são consumidos diariamente por milhões de pessoas. Além disso, seu cultivo exige menos insumos e manutenção, o que facilita sua produção em larga escala por pequenos agricultores.
Pesquisas recentes demonstram que a mandioca pode ser geneticamente aprimorada para oferecer ainda mais benefícios nutricionais. Cientistas da África e América do Sul vêm desenvolvendo variedades enriquecidas com vitaminas e minerais essenciais, como ferro e zinco, tornando-a ainda mais eficaz no combate à desnutrição. Estudos indicam que a mandioca foi uma das primeiras plantas domesticadas na América do Sul, há aproximadamente 10 mil anos. Sua longa história de cultivo demonstra sua importância na alimentação humana e sua resistência ao longo dos séculos.
Além de ser um alimento essencial para a segurança alimentar, a mandioca também representa uma oportunidade econômica para pequenos produtores rurais. No Brasil, por exemplo, a produção de mandioca movimenta bilhões de reais por ano e gera milhares de empregos no campo. Países da África e do Sudeste Asiático também vêm investindo no cultivo da mandioca como forma de fortalecer suas economias locais e reduzir a dependência de importações de outros alimentos. O processamento da raiz para a produção de farinha, amido e até biocombustíveis amplia ainda mais seu potencial econômico.
Mesmo com tantos benefícios, a mandioca ainda recebe menos investimentos do que outras culturas, como trigo, arroz e milho. Entre os principais desafios estão a falta de incentivo governamental, pois muitas políticas agrícolas ainda priorizam culturas mais industrializadas, a pouca inovação tecnológica, já que o cultivo da mandioca ainda é realizado, em grande parte, de forma tradicional, sem o uso de novas tecnologias para aumentar sua produtividade, e a visão limitada sobre seu potencial, pois em muitos lugares a mandioca ainda é vista apenas como um alimento básico e não como um recurso estratégico para a segurança alimentar global.
A fome no mundo não será resolvida apenas com grandes investimentos em agricultura industrial. É preciso valorizar alimentos que sejam acessíveis, nutritivos e sustentáveis – e a mandioca é um excelente exemplo disso. Com políticas públicas eficazes, investimentos em pesquisa e o incentivo à agricultura familiar, a mandioca pode desempenhar um papel central na luta contra a fome, garantindo comida na mesa de milhões de pessoas. A solução para um dos maiores desafios da humanidade pode estar debaixo da terra – e talvez seja hora de olhar para a mandioca com a importância que ela merece.
by Gilberlan Atrox
Técnico Agrícola em Agropecuária, Jornalista e Fotografo Documental