A agropecuária familiar brasileira, responsável por mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, enfrenta desafios históricos que se agravam diante da incompetência de gestões públicas despreparadas. Quando quem governa não conhece o campo e suas necessidades, o retrocesso bate à porta das comunidades rurais — e não só no setor produtivo, mas também na educação, na saúde e no acesso à tecnologia.
Uma gestão ineficaz ignora as particularidades do campo. Deixa de investir em políticas públicas integradas, falha na aplicação de recursos e, muitas vezes, sequer dialoga com quem está na terra todos os dias, produzindo com esforço e sabedoria. O resultado é a exclusão do trabalhador rural de processos de desenvolvimento que deveriam ser direitos garantidos.
Na agropecuária familiar, os efeitos dessa incompetência se manifestam de forma imediata: falta assistência técnica, o crédito não chega, a infraestrutura continua precária, as feiras populares esvaziam e os programas de compras institucionais são abandonados. Mas o descaso vai além das lavouras e currais.
No campo, a educação rural segue negligenciada. Escolas rurais são fechadas ou abandonadas, há ausência de transporte escolar digno e professores não são capacitados para trabalhar com as realidades locais. Jovens e crianças do campo têm seus sonhos interrompidos por uma educação que desconsidera suas identidades e territórios. Uma gestão pública incompetente trata a juventude rural como invisível — e a evasão escolar é consequência disso.
Na saúde, o cenário também é preocupante. Unidades básicas sem estrutura, falta de profissionais, medicamentos em falta e ausência de programas preventivos são marcas de gestões que não cuidam do povo do campo. Em muitas comunidades, um simples atendimento médico depende de longas viagens ou favores políticos. Isso fere a dignidade das famílias rurais e aprofunda as desigualdades entre o urbano e o rural.
E quando falamos em novas tecnologias no campo, o abismo se alarga. O Brasil já discute Agricultura 4.0 e 5.0, com sensores, automação, drones e inteligência artificial. Mas muitas comunidades da agropecuária familiar seguem sem sinal de internet, sem acesso à informação, sem capacitação para usar sequer uma plataforma de comercialização online. A revolução digital no campo só beneficiará todos se houver inclusão planejada e política pública séria. E isso, infelizmente, não acontece com gestores despreparados, que apenas seguem repassando verbas sem estratégia e sem compromisso real.
Enquanto a incompetência continua no poder, o campo se fragiliza. As famílias resistem, reinventam-se, se unem em associações e redes solidárias, mas o custo do abandono institucional é alto. É tempo de reconhecer que não basta eleger alguém que “fala bonito” ou “faz promessas” — é preciso competência, compromisso com o rural e visão de futuro.
A agropecuária familiar precisa de gestores que saibam unir produção com educação, tecnologia com sustentabilidade, saúde com dignidade. Sem isso, o campo continuará sendo tratado como problema, quando, na verdade, é solução.
Se queremos soberania alimentar, justiça social e desenvolvimento sustentável, não podemos mais aceitar a incompetência no comando da gestão pública rural. O campo clama por respeito, planejamento e ação.