Eles nascem às centenas, pequenos e frágeis, mas o mundo que os espera é curto — para alguns, quase inexistente. No ritmo frenético da indústria de ovos, os pintinhos machos não têm lugar. Eles são descartados logo após o nascimento, muitas vezes triturados vivos.
Não é uma cena para ser imaginada com delicadeza. É um fato seco, brutal, escondido nas entranhas das granjas, longe dos olhares que consomem o produto final. Essa prática, comum e silenciosa, é fruto da busca incessante por eficiência e lucro, que redefine a vida animal em números.
Mas há outra história — a do campo, onde o tempo corre diferente e o ciclo da criação é mais inteiro. Ali, o pintinho macho cresce, vive, trabalha no quintal, vira galo ou carne para a família. É um outro ritmo, um outro valor.
O contraste entre esses dois mundos nos força a encarar questões difíceis: quanto vale a vida? Qual preço estamos dispostos a pagar para que um produto chegue à mesa? Como equilibrar necessidade, produção e respeito?
Os pintinhos triturados são o retrato cru de escolhas que fazemos, direta ou indiretamente, todos os dias. Eles não estão só na granja — estão na nossa indiferença, na velocidade da produção, no silêncio do sistema.
Olhar para essa realidade é desconfortável, mas necessário. É o primeiro passo para pensar um futuro onde a produção de alimentos dialogue com a ética, a transparência e o cuidado.
E enquanto isso não acontece, esses pintinhos — que mal tiveram chance de ver a luz do dia — seguem desaparecendo em máquinas, sem voz, mas com uma história que precisa ser ouvida.
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— Conteúdo produzido por Gilberlan Atrox — jornalista registrado no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); fotógrafo documental; e técnico agrícola em agropecuária, registrado no Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas (CFTA), para a PLUATROX.COM, marca dedicada à criação de conteúdos para agricultores familiares — com a divulgação de materiais informativos e institucionais, crônicas rurais, imagens e vídeos — e também à distribuição de conteúdo sonoro, como trilhas instrumentais e produções de artistas independentes.