Laranja trepadeira é um cultivo rústico e sustentável que ganha espaço na agricultura familiar


No cenário da agricultura familiar brasileira, práticas tradicionais e inovadoras muitas vezes se encontram no mesmo espaço. Um exemplo disso é a popular “laranja trepadeira”, uma expressão utilizada por agricultores para se referirem a laranjeiras de crescimento vigoroso, cujos ramos longos e flexíveis acabam se apoiando sobre cercas, árvores e outras estruturas, dando à planta uma aparência escandente.

Embora o nome sugira uma variedade específica, é importante destacar que a laranja trepadeira não é uma cultivar oficialmente registrada, mas sim uma manifestação do comportamento natural de algumas laranjeiras, principalmente quando o manejo não inclui podas de formação e condução.

Origem do termo e prática tradicional — O termo “laranja trepadeira” é amplamente conhecido em áreas rurais, especialmente onde predominam sistemas produtivos mais diversificados e de base agroecológica. Nesses ambientes, muitas vezes o plantio de laranjeiras ocorre de maneira espontânea ou sem o uso de técnicas de controle rigoroso do crescimento, permitindo que a planta se desenvolva livremente, exibindo galhos extensos e pendentes.

Essa prática, embora não convencional segundo os manuais técnicos, mostra a capacidade de adaptação do agricultor familiar, que transforma uma característica natural em oportunidade produtiva, aproveitando a rusticidade da planta.

Manejo e recomendações técnicas — De acordo com a Embrapa Mandioca e Fruticultura, o manejo adequado das frutíferas cítricas passa, necessariamente, por práticas como a poda de formação, que visa direcionar o crescimento da planta, e a poda de frutificação, que melhora a qualidade dos frutos e facilita a colheita. No caso das laranjeiras que adotam essa forma “trepadeira”, a ausência de podas pode ser uma escolha ou uma limitação de recursos, mas o resultado é uma planta vigorosa, embora menos ordenada.

A adubação deve ser feita com base em análise de solo, combinando nutrientes minerais e fontes orgânicas. A Embrapa recomenda ainda o manejo ecológico de pragas, com ênfase na diversificação do sistema produtivo e na conservação de inimigos naturais, especialmente em sistemas agroecológicos ou agroflorestais.

Benefícios e potencial produtivo
A laranja trepadeira, como prática, oferece várias vantagens para o agricultor familiar:

  • Baixo custo de manutenção, já que dispensa podas frequentes e pode ser cultivada com insumos acessíveis;
  • Adaptação a diferentes solos, desde que tenham boa drenagem;
  • Diversificação da produção, pois pode ser integrada a quintais, consórcios agroflorestais e sistemas produtivos diversos;
  • Produção de frutos doces e aromáticos, ideais para o consumo in natura, elaboração de sucos e doces artesanais, fortalecendo mercados locais.

Além disso, sua presença em cercas ou consórcios com outras árvores contribui para o sombreamento, proteção de nascentes e controle da erosão, práticas valorizadas na agricultura sustentável.

Um exemplo de sabedoria tradicional — Para muitos técnicos e pesquisadores, a laranja trepadeira representa mais que uma prática agrícola: é um exemplo da sabedoria popular que valoriza a convivência harmônica com o ambiente e a utilização plena dos recursos naturais disponíveis.

“A laranjeira, quando bem cuidada, oferece alimento e renda por muitos anos. Mesmo nesse crescimento livre, ela demonstra a força da agricultura familiar”, destaca Gilberlan Atrox, técnico agrícola e comunicador do setor.

Caminhos para o futuro — A valorização de práticas como a laranja trepadeira se insere no contexto da promoção da agroecologia e do fortalecimento da agricultura familiar, alinhando produção sustentável com conservação ambiental. Sua popularidade em diversas regiões do Brasil é um indicativo claro de que há espaço para práticas tradicionais que respeitam o ritmo e as potencialidades naturais das plantas.

Assim, para produtores, técnicos e interessados na promoção de sistemas produtivos resilientes, a laranja trepadeira é mais que uma curiosidade rural — é um símbolo da capacidade adaptativa e da criatividade que caracteriza a agricultura familiar brasileira.



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Publisher: Gilberlan Atrox — técnico agrícola em agropecuária, jornalista e fotógrafo documental da PLUATROX SEGMENTOS, marca segmentada que atua nas áreas de comunicação rural e serviços técnicos agropecuários.


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