Prefeito Aurélio Goiano disse que “Eu não sento na mesa com o MST” – protesto em Parauapebas evidencia tensões, desigualdades e desafios da agricultura familiar

"Quando a terra fala, quem governa precisa ouvir."


Parauapebas, PA (15 de agosto de 2025) — Pelo quarto dia consecutivo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantém uma mobilização intensa em Parauapebas, no sudeste do Pará, reunindo cerca de 2 mil pessoas no Acampamento Terra e Liberdade, instalado na Praça Pioneiro. A mobilização teve início na manhã de segunda-feira (11 de agosto de 2025), com bloqueios em estradas de acesso a áreas estratégicas do município, e culminou na ocupação da sede da Prefeitura na terça-feira (12 de agosto), marcada por atos de vandalismo e protesto organizado, mas sem confrontos físicos.

O MST apresentou à Prefeitura um conjunto estruturado de reivindicações, refletindo desigualdades históricas e a necessidade de políticas públicas voltadas à população rural. As demandas incluem:

  • Pavimentação de estradas vicinais e construção de pontes, essenciais para o escoamento da produção agrícola familiar e acesso a mercados locais;
  • Reforma e ampliação de escolas e postos de saúde, garantindo atendimento básico a crianças e adultos em comunidades rurais;
  • Contratação de professores, aquisição de material pedagógico e implementação de programas de educação continuada voltados à população rural;
  • Melhoria no abastecimento de água e energia elétrica em áreas isoladas;
  • Criação de programas de cultura, esporte e capacitação técnica, com foco em fortalecer a agricultura familiar e a geração de renda sustentável.

Durante a ocupação da Prefeitura, o prefeito Aurélio Goiano declarou:

“Eu não sento na mesa com o MST. Eu não sento na mesa com quem faz baderna. Tem gente preso em Brasília há mais de dois anos porque escreveu de batom numa estátua. Eu quero ver se o mesmo pau que dá em Chico, dá em Francisco. Porque isso aqui não vai ficar assim.”

A declaração do gestor reflete a tensão institucional entre movimentos sociais e o governo municipal, marcada por disputas sobre prioridades de investimento, reconhecimento das demandas rurais e a implementação de políticas voltadas à população mais vulnerável. Parauapebas é um dos municípios mais relevantes do sudeste do Pará, com grande concentração econômica na mineração e no agronegócio. Entretanto, os investimentos em infraestrutura básica, saúde, educação e serviços públicos rurais permanecem insuficientes, evidenciando desigualdades estruturais e desafios históricos da região.

O MST, fundado em 1984, atua na defesa da reforma agrária, da agricultura familiar e da inclusão social de comunidades historicamente marginalizadas. No Pará, o movimento organiza mobilizações para garantir acesso a direitos básicos e visibilidade às demandas rurais. O Acampamento Terra e Liberdade funciona como núcleo de organização coletiva e ponto estratégico de articulação, reforçando a dimensão tática das ações e a capacidade do movimento de pressionar por políticas públicas efetivas.

Dados recentes de 2025 indicam que em Parauapebas ainda há comunidades rurais com acesso limitado a água potável, energia elétrica e transporte adequado, afetando diretamente a produção da agricultura familiar. Segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento Rural do Pará (IDR-PA), mais de 35% das estradas vicinais permanecem sem pavimentação ou manutenção adequada, e mais de 500 crianças em áreas rurais ainda enfrentam deficiências no acesso à educação básica. Essas lacunas estruturais reforçam a necessidade de políticas de reforma agrária, investimento em infraestrutura e programas de desenvolvimento rural sustentável.

A mobilização do MST também evidencia o impacto econômico e social da exclusão histórica das comunidades rurais. A ausência de políticas consistentes de incentivo à agricultura familiar limita a produção local, reduz a geração de renda e aumenta a dependência de programas assistenciais. Além disso, a precariedade em saúde e educação rural contribui para migração populacional e desestruturação social, afetando diretamente o desenvolvimento sustentável do município e a estabilidade das comunidades rurais.

O contexto político e econômico em Parauapebas demonstra a complexidade das negociações entre movimentos sociais e o governo. A cidade, apesar de estratégica para o setor mineral e agrícola, ainda apresenta desigualdade na distribuição de recursos e serviços, revelando tensões entre interesses econômicos privados e demandas sociais históricas. A mobilização no Acampamento Terra e Liberdade evidencia que, mesmo em meio a conflitos institucionais, os movimentos sociais rurais possuem capacidade de articulação e resistência, pressionando por políticas que atendam efetivamente a agricultura familiar e a reforma agrária.

A manutenção do protesto no Acampamento Terra e Liberdade sinaliza não apenas a resistência do MST, mas também a necessidade de respostas estruturadas do governo municipal. O acompanhamento dessas demandas permite analisar o impacto das ações sobre a infraestrutura, educação, saúde e desenvolvimento sustentável no meio rural. A mobilização reforça a importância de estratégias de negociação institucional, monitoramento governamental e implementação de políticas públicas que promovam inclusão social, desenvolvimento rural e justiça territorial.

O caso de Parauapebas em 2025 exemplifica como movimentos sociais rurais continuam a exercer papel central na defesa de direitos, na pressão política por reforma agrária e na promoção da agricultura familiar como base do desenvolvimento econômico local. A articulação do MST, aliada à visibilidade de demandas históricas, evidencia a necessidade de investimento contínuo em infraestrutura rural, educação, saúde e programas de capacitação, assegurando condições mínimas de dignidade e produção para as comunidades do campo.

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