Reflexão: O Estado que chegou tarde demais
Reflexão sobre a morte de um adolescente em Marabá, analisando os fatores sociais, familiares e a ausência de políticas públicas eficazes que expõem jovens à violência.
Quem era esse adolescente? Um infrator, diriam alguns. Um filho em perigo, responderia à mãe que, em desespero, chegou a procurar ajuda formal, registrando ameaças contra o próprio menino. Mas quando o Estado se move, muitas vezes, é apenas depois do último tiro. E quando o faz, não é para salvar, é para registrar.
O que leva um garoto de 13 anos a conviver tão cedo com a violência, as drogas e os roubos? Certamente não é uma escolha plena, mas um reflexo do que o cerca. Talvez tenha crescido em meio a ruas sem oportunidades, escolas que funcionam mais como depósito de corpos jovens do que como espaço de transformação, e políticas públicas que existem apenas nos discursos de gabinete.
Faltou-lhe o Estado antes da bala, antes da ficha na delegacia, antes do medo que fez a mãe implorar por socorro.
Há décadas o país fala em "inclusão", mas o que se oferece às periferias é um simulacro de cidadania. Quando não há esporte, arte, afeto, quando a fome divide o mesmo teto que o desamparo, a marginalidade deixa de ser uma escolha — torna-se uma armadilha.
E o garoto de 13 anos, que deveria estar sonhando com o futuro, acaba sendo visto como ameaça antes mesmo de entender o que significa viver em sociedade.
As políticas voltadas à infância e juventude parecem falhar justamente onde deveriam ser mais firmes: na prevenção, na proteção, no acompanhamento. O Estado é ausente quando deveria ser presença. É rígido quando deveria ser humano. Surge com o aparato da lei, mas não com o amparo da vida.
A morte desse menino não é um caso isolado; é o sintoma de uma doença social antiga. Uma nação que promete “pátria educadora”, mas oferece abandono. Que fala de “futuro” enquanto enterra seus adolescentes.
No fim, o garoto morto em Marabá não foi vítima apenas de dois homens em uma motocicleta — foi vítima de um sistema inteiro que o deixou sozinho no campo de batalha da sobrevivência.
E o eco de sua morte ressoa como uma pergunta que ainda não queremos encarar:
Quantos mais precisarão cair para o Estado aprender a chegar antes do crime, e não depois do caixão?

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